quinta-feira, 1 de setembro de 2016

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DA OBRA DA MINHA AUTORIA



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A MALDIÇÃO DO ACORDO DE ROMA


POR UMA DIMENSÃO FILOSÓFICA DO PERÍODO PÓS-SAMORA



FARUK MÁRIO FERRÃO HALLO


O tempo não é capaz de voltar à história, mas é capaz de repetir a mesma história. Inconcebe-se que “a história enquanto ciência do impossível, na medida em que do passado nada se pode alterar” se não a sua moral ao presente, retornemos ao mesmo passado para desfrutarmos de uma tal felicidade, muito menos retornariamos ao Acordo de Roma para que tivessemos um novo começo pelos erros propositados, mas é possível que, enquanto partícipes do presente que não desejamos, sirvamo-nos disto como produto amargo de sua experiência, para que o futuro não amaldiçoe as próximas gerações; por isso, Cabe-nos pela experiência de hoje e de maneira mais urgente, providenciar elementos alternativos para que o futuro renuncie todos os valores actualmente vividos, e isto passaria por rejeitarmo-nos hoje e agora, ainda que nos pudéssemos questionar se para tal, teríamos que ignorar todo um passado, sendo que produtos do mesmo, ou melhor, a que passado a nossa actualidade responde?
      De entre as opiniões que nos fossem pacíficas, o fim seria único e urgentemente o mesmo, a rejeição do que é-nos dado viver, e isto significa mudança, a mudança do homem como o animal privilegiado em todo o reino zoológico, aquele que para além de se dar conta da sua existência, tem-se com o papel de a influenciar, mudando de rotina, de vida, de escolha e de opinião.
Faruk Mário Ferrão Hállo
                                                                                                                                                           
                                                                                                                                                           



CARO LEITOR…
Se me questionares sobre quem é o político, certamente que lhes identificarei pelos bens materiais que possuem, pelo tipo de autoridade que exercem sobre os outros, pelas promessas falsas e pela mendigues de votos em momentos de escrutino.

Mas se te questionasse sobre quem é o filósofo, provavelmente me dirias: não sei, ou mesmo nunca vi, mas admitirias que tens ouvido falar de filosofia nos discursos políticos, nas reprovações dos estudantes do Ensino Geral, ou pior ainda, nas exclusões aos exames da primeira época, em debates inacabados, nos discursos aparentemente contraditórios, na história das revoluções científicas e sociais, ou simplesmente na fala dos actores de novelas.

Poderias-me também responder que filósofo é o indivíduo que pode facilmente, contornar o sentido de um pensamento sem que o altere da sua verdade, e que várias vezes, tens ouvido em debates juvenis alguém se intitulando filósofo, mas provavelmente não pudesses perceber que seria pelo facto de nunca ninguém lhe ter discordado dum pensamento brilhante, mas contraditórios aos objectivos políticos de um regime em determinada época; em última instância talvez alegasses que filósofo é Severino Ngoenha, por ter proposto que o experimento Filosófico acontecesse no Sistema Nacional de Ensino. Mas acredito que se compreendesses efectivamente sobre quem é o filósofo, darias-me as costas e abandonarias o local da conversa.

Como sempre, diferentemente da Política, a Filosofia enquanto movimento emancipador, é solidária em aposentar todas as tendências de respostas que o homem lhe achar favorável, aliás, é ao próprio homem que Filosofia enquanto manifestação da razão e do espírito procura realizá-lo à medida da sua insatisfação, sem que em volta disto recaia o indesejado. É nesta velocidade que as contradições entre a Filosofia e a Política atingem contornos alargados,
desde a morte de Sócrates aos dias de hoje, desde o Acordo de Roma ao Acordo da Instabilidade Militar.

Com o Acordo de Roma, não se esperava que Moçambique passaria a graduar positivamente na escala dos países mais corruptos na proveta internacional, que o chá de Guruè serviria apenas para exportação, que as regiões Centro e Norte não fariam parte do mesmo Moçambique, que a nudez de muitos implicaria o exagero de poucos, que a opressão da maioria significaria libertinagem da elite, que os quadros fossem corrompidos pelo mercado de trabalho, e que existiriam mais problemas no seio do governo que os problemas da própria nação.

Mas com o Acordo da Instabilidade Militar, chega-se a conclusão que o povo completava vinte anos da sua exclusão nos planos quinquenais, e que Papa João Paulo II intermediou o Acordo de Paz porque o Vaticano pretendia recuperar as instituições perdidas pela autoridade de Samora.
                                                                                                          
Faruk Mário Ferrão Hállo


INTRODUÇÃO

Entre várias circunstâncias que o homem tem-se confrontado em seu processo de vida, o fenómeno político tem-se mostrado incontornável ao seu dia-a-dia, ao mesmo tempo que o filósofo mantém o ímpeto da sua progressão.
É no contexto das metamorfoses que deram início após a assinatura do Acordo de Roma, que nos remeteremos a uma discussão filosófica sobre as oscilações politicas que se observaram a partir do período em que se assiste a ruptura do paradigma samoriano.
A iniciativa para que pudesse existir um acordo, que mais tarde passou a chamar-se Acordo de Roma, pela situação espacial ao qual foi concretizado, deu início a falsificação de todos os modelos de administração que vinham sendo levados pelo presidente Samora.
Em 19 de Outubro de 1986 foi julgado e condenado por razões que só o tempo viria interpretar. Volvidos seis anos, veio a acontecer no processo histórico de Moçambique a primeira ousadia; sugere-se um Acordo que só se dissociou do plano teórico e burocrático em 04 de Outubro de 1992.
A ideia fantástica de um acordo que viesse unir duas forças beligerantes trazia consigo o pensamento brilhante de um país que pudesse ser construído de maneira mais delicada, onde o erro de um pudesse ser percebido pela experiência do outro, um país construído pela sua própria autonomia, uma nação que reserva-se consigo a experiência do passado rumo à emancipação real.
O compromisso acordado não era daquele que justa ou injustamente se rebelou durante os dezasseis anos, não era daquele que silenciou Cardoso e Siba Siba, e muito menos seria daquele que desabitou os bancos e permitiu que os cofres estatais fossem arrombados.
O Acordo ou ousadia com a qual nos comprometemos promoveu, no cenário da política regional e internacional, a imagem de Moçambique como o exemplo a seguir, ao mesmo tempo que galgávamos esperançados a um Futuro Melhor, só não fomos capazes de percebermos que precisávamos de muito mais que um simples Acordo de Roma, um acordo que não se limitasse somente na cessação de morte de inocentes, do calar das armas e da destruição dos bens do estado; carecíamos antes de mais, de um acordo que trouxe-se consigo o elemento inovador quanto a emancipação à que se pretendia, julgávamos que, com a obtenção do Acordo de paz nos encontraríamos preparados para convivermos em um ambiente moderado, só não nos apercebemos que, em paralelo, corríamos em direcção à nossa própria condenação, na medida em que não nos era apto, naquela altura, relacionarmo-nos com uma realidade que nos fosse tão nova; consequentemente, hoje somos julgados pela instabilidade militar e pela falta de consciência cívica, hoje respondemos pelos erros cometidos, e pelos mesmos erros, somos sancionados pelas adversidades que compõem o nosso dia-a-dia, pelas necessidades irrealizáveis, pela globalização que já é inevitável, pela dependência externa, pelas políticas importadas e desajustadas às pretensões da maioria, pela condenação do povo em detrimento da liberdade da elite, pela viciação das culturas locais e pela ignorância impressa nas futuras gerações.
A paz, que hoje é colocada em causa, só é digna de ser vivida quando levada em colectivo, não é propriedade de grupos restritos, pois o pressuposto do acordo com o qual fora concebido era que fosse partilhada por todos, por isso exige de todos, o mesmo.
Carecíamos, antes de tudo, de uma libertação teórica que nos habilitasse, na medida do possível, a conter as emoções pelo que viria, razão pela qual não nos mostramos suficientemente honrados por aquilo que veio a concretizar-se em 04 de Outubro de 1992, a posterior à assinatura, foram marginalizados todos os aspectos de ordem axiológica, a vida da nação era definida ocasionalmente, circunscreve-mo-nos em um modelo de liberdade que se definia em uma vida isenta de prestação de contas, e nem de uma Filosofia clara sobre o tipo de sociedade pretendida futuramente, muito menos se procedeu à definição do que significaria ser moçambicano, pelas escolhas que optamos após o Acordo, vimos anuladas todas as influências que a experiência do passado teria sobre o futuro.
 Após o Acordo, surge-nos a primeira maldição, instalando-se em toda a função pública e a todos os níveis, desde o primeiro ao último Ministério, da maior à menor organização social, confirma-se a expansão da poligamia e do vírus do SIDA, a família começa a desintegrar-se, independentemente da vontade dos antepassados a crença religiosa acaba em opção individual; os filmes da Hollywood acabam em realidade na capital do país, os criminosos são credenciados para desenvolverem o seu ofício,os bem-intencionados tornam-se apenas memória do povo, ao mesmo tempo que o poder judicial disfarçava a opinião pública; com a primeira maldição consuma-se a extinção dos bancos BPD e BCM; enquanto que a filosofia do cabritismo surgia na medida em que o crime organizado era dela resultante.
Desesperados por tudo que não seria, a segunda maldição concretiza-se na medida em que a diabolização do subjectivo assume outras variáveis - o egocentrismo exagerado; a exaltação do eu atinge todos os patamares do sentimento humano, o bem é praticado em função de um retorno ao próprio praticante, enquanto que o povo deixava de ser objecto dos planos quinquenais; com a segunda maldição, as actividades laborais terminam em rotina para que o salário aconteça, a vulnerabilidade do sistema dá-se pela promoção do género; as religiões acabam institucionalizadas ao poder politico, o Conselho Cristão acaba não sendo, a sociedade civil disfarça a opinião pública, os mais fracos tornam-se maleáveis aos mais fortes, a prostituição infantil surge então! incrivelmente, o desenvolvimento económico marginaliza o desenvolvimento social; enquanto que o Estado da Nação melhora em função dos relatórios, frustrada por não alcançar os seus intentos, a liberdade de expressão rompe os seus próprios limites, revoltados por tudo, a media independente multiplica-se e se expande.
Com a segunda maldição, a diabolização do Acordo de Roma atinge o ponto mais elevado, torna-se mais real e concreto, invadindo os quintais, tomando conta da vida individual das pessoas, corrompendo a mente dos inocentes, multiplicando a tristeza das crianças pela autoridade das mães sobre os pais, vandalizando as farmácias públicas pela promoção das privadas, viciando as pautas do Sistema Nacional de Ensino, viciando os créditos bancários, reduzindo o poder de compra e, alegrando-se por assistir pais e encarregados de educação em pânico pelo salário que não satisfaz a mensalidade. A segunda maldição diaboliza a relação entre vendedores ambulantes e a polícia municipal, entre os tchovas e os autocarros, com a segunda maldição assistimos destronada a dignidade do partido Frelimo.
Com a segunda maldição, a ressureição de Samora acontece disfarçadamente em estátuas idolatradas,tanto é que, a sua figura acabou refém de discursos políticos até hoje ouvidos.
Pela realidade a que nos encontramos, onde a cada ano o contrabando de madeira não para de cessar, onde a polícia não para de colaborar com os criminosos, onde as balas perdidas não deixam de ser enigma, onde a cada sessão parlamentar as opiniões dos partidos da oposição não deixam de ser negligenciadas; e muito ainda, quando a cada escrutínio a democratização do poder vem ignorando a decisão do povo, vemo-nos obrigados a invalidar o presente para que o futuro não condene as próximas gerações; podemos melhor que no passado, construir a imagem de uma nação nova, capaz de julgar e condenar a sua própria actualidade, uma nação proposta a novos desafios e a novas conquistas, uma nação capaz de se situar em seu próprio tempo e espaço, uma nação que rejeite todas as tradições assumidas aquando do Acordo de Roma, mas também, uma nação que não seja necessariamente à imagem paradigmática de Machel.
A proposta para uma reflexão filosófica sobre aspectos não menos marginalizados para a construção de um Moçambique verdadeiramente edificado, um Moçambique opinado a um futuro menos pior que o presente a que está condenado deve ser aceite por uma obrigação moral de todos, sem que no entanto, se releve o estatuto social de cada participante, na medida em que cada um, em seu espaço concreto, se torne elemento activo de um todo que se quer realizado na imagem que sempre se esperou; e mesmo que espinhosa, esta batalha que nos é árdua, a Filosofia prontifica-se em oferecer-nos caminhos que nos felicitem em contínuas tentativas, sem que por isto legitimemos o nosso presente pelos erros propositados no passado!
                                                     Faruk Mário Ferrão Hállo
                                                                                                             
“A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal”– Santo Agostinho